sábado, setembro 15, 2007

Carta para um amor antigo

Ler seu texto foi tão complicado – mas não no sentido de algo entediante ou frustrante – quanto a minha tentativa de ler você. E a dificuldade – vou me apropriar de um jogo de palavras seu – é exatamente tentar ler em você alguma palavra nova de mim mesmo.

Não considerei seu texto-você contraditório, mas sim denso e complexo, cheio de caminhos pelos quais o leitor se vê na dúvida de seguir. Só sabe que deve seguir algum. E talvez a escolha seja perigosa demais, e por isso a mais sedutora.

E a única certeza que o leitor desse texto-você pode ter – onde reside o real prazer da leitura – é que o retorno é impossível; querer o repetido ou o antigo não cabe em nenhum desses caminhos. Não sei se me faço claro, porque esta não é minha melhor virtude.

Como li no texto que é você, e que fala um pouco do que sou eu, me questionei: minha inconstância (porém não inconsistente – adorei a imagem!) está em quem? Será que sou tão desligado assim das outras pessoas? Não existe fundamento nas minhas características que sejam construídas no outro?

São muitas dúvidas!

Queria poder simplificar os questionamentos, mas meus anos de vida ainda não me deram essa habilidade. Se é que eles me darão!

Talvez as pessoas pequem ao se deixarem oprimir por projeções. Somos acostumados a sempre pensar no antes e no depois. E quando fazemos isso, pioramos ainda mais nosso pecado, pois somos deterministas em nossos discursos, e esquecemos de toda improbabilidade que nos rege. Por isso a inconstância toma conta em alguns momentos, porque não fazemos deles nossas lembranças mais bonitas, ou mais frustrantes, ou o que quer que seja, para destas tirarmos conclusões menos improváveis e mais construtivas.

Se não acreditarmos nas palavras que saem da boca dos outros, em que mais poderemos acreditar? Devemos ser então desacreditados de tudo? O que é o tempo se não a maneira como o experimentamos? Ou matamos o tempo ou o tempo nos mata (isso não é meu).

Não descordo que os sentimentos sejam efêmeros. Só discordo de afirmações categóricas sobre o futuro. Isso foge ao que a vida representa de maneira sui generis.

Sobre relações antigas, as minhas serão sempre antigas, por mais recentes ou particulares que sejam. Mas serão sempre antigas. O algo novo estará na maneira como eu as enxergo daqui, deste tempo. Tenho mais a viver agora do que aquilo que já não vivo mais. E, no novo, sempre deito fora de mim meus recalques, algo que não conseguiria fazer no antigo.

Mas um dos pontos que mais me instigam nessa nossa relação (me permita chamar assim) é a idéia de fuga. Porque me acomete diretamente a questão. Você fugiu de mim? Precisamos ter alguma certeza sobre isso. Não será essa fuga de mim uma fuga de ti mesmo?

Se for de ti mesmo, digo que não é nada anormal, pois todos têm suas conjecturas em estágio de desenvolvimento pleno e constante. Mas se a fuga for realmente de mim, digo que ela é vã. E não podemos esquecer daquele pensamento batido em multiprocessador: toda escolha é uma renúncia. Mas isso não significa que a escolha, ou a renúncia, seja obrigatória, ou imposta em determinado instante. No entanto, mais cedo mais tarde, fica patente a solução.





Redu
Redun
Redu
Redun
Ânsia
Redu
Redun
Dança
Redu
Redun
Cansa
Redu
Redun
Redu
Redun
Samba
Enfatização