sábado, outubro 29, 2005

Mulher-manequim

Não quero saber se o tecido do teu vestido é o mais fino, da tua arma dura, da tua carapaça de cristal modelado. Não me importa o teu corpo erguido em saltos de inconstância, plena de ignorância. Nada valem teus bustos, glúteos firmes! O fiasco da forma encerrada em tom fosco. Não sucumbo ao apelo forçoso que deprecia o precioso por obsessão doentia.

Mulher, sê mulher!

Tempestade metafórica


Lá fora, o céu carregado ameaça tombar inteiro sobre a terra. As nuvens alvas assumem tons escuros e apagam a luz que iluminava, ou que cegava. O vento age apenas lá, no alto, deslocando as trevas de um lado a outro.

Aqui dentro, sobre um candelabro, uma vela, de chama pequena, insiste em resistir. A cada sopro maléfico, cambaleia, enfraquece, mas consegue se levantar. Um rascunho de vida desenhado em sua memória a mantém ainda acesa.

O céu desaba. Torrencialmente, o céu inteiro desaba. Gotas covardes se chocam vorazmente contra a terra e se dividem em milhões de outras gotas, até se unirem e formarem um imenso rio revolto. Uma sinfonia, um conjunto de vozes e sons.

De repente, a chama, assustada como nunca, percebe que do céu despencou a água que encheu o rio. Percebe que não sabe mais o que é céu e o que é rio. Então cambaleia mais uma vez pela incerteza que se coloca diante dela.

As nuvens agora disparam flashs que iluminam e cegam e inundam e emendam e assustam e machucam. A chama se apaga momentaneamente a cada flash. E o rio aumenta querendo chegar até o céu, de onde veio. A chama resiste e insiste ali no meio... entre o céu e o rio... no limite da existência
.