segunda-feira, setembro 18, 2006

Com a ajuda de chico

para quem me faz bem...
O Homem estava num lado da rua. A Mulher no outro. Esperavam pelo ônibus a fim de seguirem suas viagens. Olharam-se. Ligaram-se. Os olhos mesmo à distância de duas extremidades tinham cumplicidade. O homem atravessou a rua e o caminho da mulher repentinamente apaixonado. Todos os seus vícios o Homem confessou a Mulher.

O amor é ter no outro o porto seguro de si? É se atirar do alto de um prédio e não cair, porque agora se tem asas?

A Mulher consterna. Nada nega. Confessa que já sabia de tudo que ele tinha dito a ela. Diz que o novo da situação está no olhar. Pede ao Homem sua compreensão. Estão agora os dois no ponto da Mulher. Talvez eles sigam agora aquele carinho.

Mergulham então no oceano profundo. Podem respirar em qualquer lugar porque o alimento de suas vidas não está no âmbito da materialidade. Ainda se olham enquanto dão braçadas e pernadas rumo ao que há de mais profundo no oceano. Estão absolutamente encharcados. Desligam o chuveiro. Vestem-se. Ainda se olham.

Naquela noite eles não se veriam. Mulher adoeceu. Homem compreendeu. Ela havia pedido compreensão. Era noite muito quente. Era noite de muita gente na rua. O calor em pleno inverno torna os ambientes fechados o verdadeiro inferno. Então Homem foi beber.

Sentou-se logo porque as pernas estavam bambas de sono. Assistia a um jogo de futebol e lembrou de chico. Você era a mais bonita das cabrochas dessa ‘sala’. Lembrou de Chico porque tinha lembrado da Mulher. O meu samba se marcava na cadência dos seus passos. Passos, aliás, dados pelo Homem ao sair do seu ponto. Mas estava satisfeito.

Mulher pensava fazer o doce predileto do Homem só para ele ficar em casa.

Homem comemorava no bar e Mulher não sabia lá o quê. Homem comemorava o sentimento que tinha por ela, cada lembrança mais um copo e a vontade de cantar seu afeto. Sentiu saudades do olhar. Não fica sentida, você já mudou minha vida.

No bar reinavam bafos de rivalidade, alentos de discórdia, entusiasmos de ciúmes. Tudo por conta de um esporte. Homem alheio a tudo. Projetando na retina dos próprios olhos o olhar raso da Mulher, seguro, sobriamente belo, harmônico ao traço da boca, singelo no contorno do sorriso benevolente.

A saudade que Homem tinha de Mulher o tornava um ser leve, absolutamente ameno, de comportamento sereno e tranqüilo. Mulher era morena dos olhos d’água, os seus olhos, do mar! Homem gostava do abraço estreito de Mulher. O Olhar de Mulher chamava o Homem de menino vadio, não queria ter seus convites recusados, queria Homem perdido nos braços dela. Homem rodara o mundo entre guerras e batalhas, retornando em busca da prenda dos carinhos de Mulher.

No final daquela noite, Homem nem mesmo dormiu, porque quando fechou seus olhos, o sonho não foi interrompido; começou no dia, no ponto, nos olhos e continuou no sono!

2 comentários:

Anônimo disse...

ah, esse sentimento que nos domina: amor!
um conto, um poema ou uma declaração de amor em forma de palavras?
bom, muito bom e singelo!
inté!

Anônimo disse...

Il semble que vous soyez un expert dans ce domaine, vos remarques sont tres interessantes, merci.

- Daniel