para mim mesmo
São duas as minhas formas de inspiração: prender a respiração ou respirar profundamente. É nessa base aparentemente simples que se apóia minha produção literária. Os contornos dos meus contos, que escrevi poucos, dos poemas, que escrevi muitos, dos romances, que já vivi vários mas escrevi apenas alguns, os contornos de toda minha escrita seguem o caminho do ar preso e do ar adentro.
Enquanto espero, escrevo e depois rasgo, assim como na música, minhas melhores idéias. A sobra eu dedico aos leitores. São as projeções sobre amor, sobre amar, sobre ser amado ou ser amante, sobre o ser amado ou o ser amante. Os leitores adoram essas sobras minhas.
Quando o ar paira dentro de mim, e então prendo a respiração, me vejo dentro de um vácuo, flutuante na náusea, leve como uma pluma, como um papel de bala caindo do décimo quinto andar de Quando tudo acontece ao mesmo tempo, viajo desarmado e desamarrado de princípios ou empecilhos...
fui até a esquerda
direita olha-me na esquerda
me afasto retorno
não espero
coloco meus sapatos
esquerda ou direita?
dou-me um tiro no centro
respiro profundo e profuso esse ar de parafuso confuso e não-difuso me uso no uso do abuso ponto respiro o remédio contra o tédio e fico assim de intermédio ponto de novo dedilho meus trocadilhos maltrapilhos em estribilhos de milho ponto tá pronto meu conto tô tonto desmonto e monto no manto santo num recanto de enquanto ponto final
Meu coração parece que vai parar de bater na porta. Cansou de chamar e não ser atendido. Os dedos do meu coração estão esfolados de tanto socar a porta. É triste ver o desespero dele quando percebe que o lado de dentro não quer recebê-lo. Não resta mais esperança, ele não agüenta mais esperar, quem espera nunca alcança. Então, coração, descansa.
São essas as linhas e trilhas que baseiam meus dois poços de inspiração.
(agosto de 2006)
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