Sensibilidade
A mais bela Vista
Não posso...
Minhas Retinas não suportam
Tamanho brilho
As Retinas
Dos meus olhos
São ainda virgens...
Inocentemente controladas
Como pode ser a Vista?
O brilho intenso cega
Todas as manhãs
E rouba das minhas retinas
As cores
Ó Vista!
Fundo de tela!
Me liberta desse teu brilho,
Dessa minha espera!
Que minhas Retinas possam
Passear livres no espaço
elas
(entre)
Vista.
Pura meninice
Pensar a Vista sem vida
Vontade de ser vista.
Cansada, a Vista se apaga
Liberta seu ódio
Se esconde
Em raios e trovões
Mais luz...
Minhas Retinas não
Não mais suportam
Estáticas, na fenda,
Caminho entre elas,
Se molham da chuva
... fina ...
ameaça apertar
Num instante só,
como quando se admira
o proibido desejado,
faz-se do nítido o turvo
um dia de lume suave,
outro calamitoso
e os lampejos ferozes
sobre minhas impotentes feridas
Retinas
Então intervenho,
E as abrigo em baixo
De duas marquises...
Escuras... apenas isso....
Onde o brilho de antiga Vista
Se dissipe em se dissipar...
Pelas trevas, puras,
E um pouco duras,
Minhas Retinas sabem ir.
Sensibilidade II
Já não sei dizer
Digo que não.
Meus ouvidos tomados
Indefesos ao extremo.
Quantos distúrbios
A estes ouvidos escravos.
Penetrados ao fundo,
Apunhalados no âmago.
Que vozes cruéis
Esburacam meus pobres
- eu disse pobres -
E desarmados ouvidos.
Tudo, aos meus ouvidos,
É um resumo constante.
Sou dois desgraçados –
Desamparados – ouvidos.
E essa voz que convence,
Incansável elaboradora.
Viaja do cúmulo racional
Ao absurdo retórico da fé.
Não, não suportam
Meus ouvidos chorosos.
Escorre o melado doce
Recuperado pela língua.
Violentados, arregaçados,
Meus ouvidos tão ingratos,
De tanto ódio e desagrados,
Me torturam regados de dor.
Então, não suportando mais,
Estendo a caneta vorazmente
E defendo meus ouvidos
Com a lança de tinta negra.
Neutralizo todos os sons,
Calo tudo e o silêncio.
Sou o próprio vazio
Sinótico absoluto do silêncio.
Apago os ruídos estúpidos
De todas as línguas más.
Impeço os ataques mortais
Que antes causavam pavor.
Desloco pras vozes malditas
Seu sujo discurso fedido.
Entrego mais uma vitória
Aos meus lutadores ouvidos.
Sensibilidade III
Sem emitir som algum
significo interno,
na mente, o mundo.
Minha língua ainda não sabe
discernir ao certo, mas já sabe
que o doce é a superfície
(o que circunscreve)
e o amargo o mais profundo
(penetrante e intenso).
O que salga não toma tempo,
mas diverte como ninguém.
Mas o sabor acre das coisas
se aloja por tempos na língua
(na saliva, no fluido do prazer
e desejo)
e atinge o abismo insondável do córtex.
Também os gostos podem se alterar:
o doce ir a amargo, e este, àquele.
(variabilidade da vida – inconstância)
Temperatura, intensidade, área estimulada...
tudo pode variar sensações distintas.
Se o sabor meu vai da língua à mente,
depende que venha do cérebro à língua de alguém.
(contramão de sonhos)
Se assim não for, não sinto nada...
apenas lembro do gosto instalado
em alguma zona obscura das minhas recordações.
Mas tudo é sabor, gosto, olhar é saboroso,
é paladar, os cheiros são tão vicejantes
quanto a gustação dos amores eternos.
Ouvir é também gostoso.
Salve o paladar, a graça, o espírito de todos os sentidos.
Deglutir a vida em doces amargos momentos.
Sensibilidade IV
Quando me vem o perfume,
Não como o de rosas,
Os olhos cerram a luz, as cores.
O cheiro me traz dor
A do passado murcho
Que exala o aroma do silêncio
A fragrância do não existir mais.
Meu olfato memória me prende
Lá no ontem que não mais hoje,
Que não mais nada possa ser
Além do que já foi antes.
Cheiro das lembranças mais fétidas
Que me atormentam o juízo.
Minhas incertezas sobre o futuro
Que, acho, quer repetir o decorrido.
Então me perco nessa impressão
Olfativa das minhas derrotas.
Emana de mim a essência podre
E doentia dos fracassos de outrora.
E no fim tudo tem cheiro, menos eu,
quarta-feira, abril 05, 2006
As sensibilidades poéticas
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