sexta-feira, abril 14, 2006

Tudo que sempre quis escrever ou todos são idiotas

Tudo que sempre quis escrever ou todos são idiotas

São oito horas da noite. Estou em frente ao computador enquanto penso num conto. As teclas parecem desafiar meus dedos na busca por uma palavra que seja. Acesso a rede mundial de computadores. Tenho agora, virtualmente, o mundo inteiro ao meu dispor; o controle total do planeta que me cabe; na minha infância a bolinha de gude era o globo em miniatura, agora ele possui formato de tela.

Já incluído e inserido digitalmente, confiro recados, envio mensagens, mas o texto em si eu ainda não consigo iniciar. Parece que não, mas em meio a uma série de informações me vejo dentro de O Grande Ditador, com aquela bola pra lá e pra cá, Hitler e seu brinquedo bola, Chaplin e seu brinquedo Hitler... mas texto eu ainda não comecei.

No programa – engraçada essa palavra, não é mesmo? – de relacionamentos, apenas possíveis, leio frases. Transa eh arti, gozr fz parti, engravidr eh modah, axumi o filho q é phoda!! Por que será que se chama programa? Por que está tudo programado? Alguém aí perdeu o chip da dedução óbvia? Que frase maneira. Inspira o inspirável... programa. Que dizer então do texto que não consigo?

Penso na Beth. Que será que Beth está fazendo agora? Acho até que posso responder a minha própria questão. Então por que a fiz? Posso tê-la feito inutilmente! Todo esse palavrório pode não ser necessário. Até pelo fato de que como diz uma outra frase, os alckimistas estão chegando, estão chegando os alckimistas. Puta frase inteligente! E o texto nada! Te cuida, fruto-do-mar!

Levanto, ando, fumo cigarro, coço meu saco, bico um sapato, fico de lado, olho um retrato, coço meu saco, apago o cigarro, ligo o rádio, subo num estrado, me canso, não caio, balaio de gato, estico no prato, esquento o barato! Ih!!! Acho que fiquei resfriado! E o texto não sai!

Tenho que escrever esse raio de conto ainda hoje. Nem que eu tenha que vender minha alma ao diabo. Esse texto sai-sim-sinhô! Mas olha essa frase: nem só de pão o homem pobre viverá, mas também da mortadela barata e do café fraco!!!! Essa frase é blasfêmia, dirão os religiosos. Um despautério herético da parte de um sujeito absorto pelo pecado! Será que eu escrevo conto ou

poesia?
um nó desatado
no exato instante
no melhor dos ângulos

frase: comunicação averbal

dói? dói?
foda-se tua dor
também dói em mim
a tua dor
fodam-se todos nós

poesia ou

Conto. Ainda não está decidido o que escrever. Mas quando exatamente se toma tal decisão? Escrever é tomada de decisão ou decisão não tomada? Apenas a representação de todo e qualquer ato, estado ou sentido que seja. E por que eu devo escrever? Se há razão, por que não me deixam encontrá-la sozinho. Pois aí eu a destruo; e os homens morrerão de frio, porque Prometeu já foi derrotado. E Sócrates era só um amigo imaginário utópico de Platão.

Acaba aqui e vou ficar sem escrever nada mesmo.

3 comentários:

Anônimo disse...

porra, fábio, mas um conto na linha literatura existencial que tu faz, a cada linha uma reflexão, uma reflexão a cada segundo de palavra impressa.
isso é muito bom!
acho bacana essa mescla que tu faz de pensar/fazer, tudo se juntuando, bailando junto ao mesmo tempo.
quase uma foda de palavras!
muito bom o texto que se procura dizer não-texto.
abraços!

Anônimo disse...

nHaaa
te adoro páá caralhooo ..
beiijoSs moÇo ...

Anônimo disse...

concordo com o que cara disse sobre o pensar/fazer e sobre a intensão de não texto, mas talvez a idéia da venda da alma ao diabo fosse um pouco demais para produzir um conto. Eu acho que você não faria isso pra escrever, mas pelo simples fato de que o fogo do inferno queimando a sua carne seria uma melhr circunstância para gritar a sua revolta do que a que você está inserido. Mas tenha calma. pode não parecer mas o mundo não é feito só de idiotice, e como disse chico "mas eis que chega roda viva e carrega o destino pra lá". Isso vai passar. De um jeito ou de outro vao passar.
abraços!