quarta-feira, abril 05, 2006

A nuvem

A nuvem

Há pouco tempo tive uma revelação,
fala baixinha,
no fundo sem fundo do ouvido,
tão baixinha
que custa a acreditar que é verdade.

Nem sequer foi a esperança,
que venta fraca
e quase não balança
os fios embolados
do meu cabelo.

Desconfiei,
mas logo percebi
que não se tratava da voz grave
da revolução,
ah, isso também não.

Calei tudo quanto podia,
porque havia me parecido ser o canto
das ninfas,
meu convite
ao prazer eterno... mas...

E eu, na cegueira surda
de não saber o gosto,
me fiz fascinação.
Cada momento
de vida
se redigia
nos versos mais belos,
nas estrofes mais ou menos tortas
da falta de hábito,
nas coletâneas de noites

de amores sem cores
e
ódios sem dores
e
campos sem flores.

Algo se evaporou
em direção ao céu
onde nada se distingue,
nem mesmo as coisas sólidas,
porque não as alcançamos.

Fiquei preso ao solo sem poder voar como queria.

Vez em quando
eu
me arrisco a olhar o céu,
e lá está ela,
a nuvem,
que se desloca e transforma me entorta a cabeça e se vai.

De cores e formas,
variadas,
gotículas esparsas
me pingam na testa,
escorrem pelos olhos,
saciam a sede,
agravam o desejo

e caem no chão.

Há pouco tempo tive uma revelação, só me resta saber...

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