segunda-feira, junho 19, 2006

O cerrado que fascina

Lapsos de memória de uma viagem qualquer

Primeiro dia – 07:15 – acho que essa é a hora; nunca uso relógio

Tantos os amores
de todos
ainda penso em você

Minha alma tonta
desmancha
vendo o ardor se perder

Hoje quero tudo
amanhã posso não querer

Levo esse canto
sem rumo
já não consigo viver

Vem dançar meu samba
tão bambo
que eu insisto em bater

-- Diário de Viagem ou Diário da minha viagem --

07:30 – talvez...!

Acabei de compor um samba; bem, pelo menos essas são as palavras para representar o que fiz. Mas de qualquer modo, acabei de compor um samba, mesmo sem saber ao certo o que é uma composição; tão pouco um samba. Não que eu seja ignorante, apenas reservo a mim mesmo o direito à dúvida.

Tudo acima do meu potencial é um sonho que se realiza a cada instante do meu sono.

Por que não fechar os olhos e pensar no show da Ivete, na vitória magra (melhor ainda, raquítica) da seleção, na vida do meu vizinho, no presente que vou dar, nas leoas, na casa própria com carro zero na garagem, na salvação da minha alma, no rap do boldinho (fé em deus, dj!), no final da novela das oito, nas bolhas de ronaldinho, no cardápio de domingo,...?

...

Não!Definitivamente não! Meu caminho vou seguir até o fim! “Mesmo se for só, não vou ceder”. Minha coroa já vesti faz tempo e não saio de casa sem ela (ouvir Los Hermanos).

...

Ainda que meus olhos estejam fechados!

...

Nossa! Que vista!

07:30?

É sacanagem isso que fazem com meu coração. Não há um momento da minha existência que escape a minha reflexão. Ou há?

Menina morena

Escrever
Te descrever
Redigir
Te traduzir
Palavrear
Te expressar

Pensar
Te ter no pensar
Olhar
Te beijar de olhar

Letras
Sentidos de não-sentir

Te ver
(um prazer)
querer sem poder

Sorriso que venta ameno
pra fora de ti
pra dentro de mim
qual Brisa...
Mulher Bela

Esse poema já estava marcado na folha. Seria um sacrilégio da minha parte sacrificá-lo. Até porque ela era realmente Bela!

10: e alguma coisa!

O sol que ilumina, mas cega, apareceu; então pude notar que o resumo é a epiderme dos fatos.

Em alguma hora da BR-040

Às vezes acho que a vida toda é feita de frases de efeito.

Pela manhã do primeiro dia a banda tocou enquanto estávamos no alto de um morro constatando que nossos sonhos não são maiores que aquilo que nossas vistas alcançam.

Um pouco antes de dormir

Sinto no texto a prova da minha limitação. Fiz das dúvidas de Serzedas as minhas certezas. Em verdade, o espaço existente entre uma palavra e outra guarda um silêncio. E nesse intervalo mudo, me retorço pelas vontades e sentimentos. Em alguns momentos, para mim, é a falta, que tenho daquilo que deixei de ser, a minha ficção. Fora esse sujeito abstrato que paira feito nuvem, o lugar e as pessoas são muito bonitos.

Salva de palmas para a sintaxe do interior!

Já é hora de sonhar!

Amanhã os rios serão a hipnose!

Depois que muitos galos cantaram

Fui capturado pelo sonho, mas nem mesmo meu eu-onírico acreditou que tudo pudesse ser como antes. Foi então que densas lágrimas foram derramadas pelo pênis.

Um pensamento perdido no tempo proclama que o sorriso talhado na minha cara é uma máscara perdida em si mesma.

E como já disseram antes, muitos já estão mortos esperando o tiro de misericórdia que os liberte da agonia de viver.

Frases anti-cronológicas

O resultado não valeu o sacrifício!

É melhor nem ter opiniões, já que todas elas são induzidas!

Eu não sou, mas estou... sempre me renovando!

Último dia

Ontem as palavras sucumbiram frente a magnitude das telas que se iam pintando com os meus olhos. Hoje o sol só veio dar bom dia e se foi. Faz frio, é verdade. No entanto nada supera a temperatura glacial do meu coração. E não há chama que o aqueça ou que o faça virar cinzas.

Um pouco da minha ficção

Foi si imaginação. Ela em trajes de banho. Corpo molhado de rio. Sorriso no rosto, nos gestos e nos planos. E nada mais foi preciso, por mais impreciso fosse o meu desejo.

O que teria sido a noite de volta...

Iniciei-a de Itutinga a São João Del Rei. Quando aqui cheguei, não havia mais passagem. Pronto! Estou num quarto de hotel contando com a sorte que quase não tenho para voltar definitivamente daqui a pouco passando antes em Juiz de Fora e depois chegar em casa.

Tem um cara no quarto do lado e eu acho que ela vai chamar a polícia para me prender ou então o velho da recepção vai se esquecer de me acordar às cinco porque sozinho eu não consigo e aí eu não volto nunca mais que vontade não me falta.

O nome do hotel é Colibri e essa menção eu faço em homenagem a um amigo.

As memórias fotográficas se perderam por nossa falta de tato com a máquina e por isso o ícone está arruinado só restando o símbolo para contar os últimos dias quem sabe a vida toda de um cara que já não sou mais.

Poesia
divindade ou heresia
fervor ou agonia
ou porra nenhuma

Amanhã eu volto
ou melhor
mando outro em meu lugar

Nem sei mais se vou dormir.

O homem do quarto ao lado esteve a me observar. Estou apavorado. Sinto como se a qualquer instante ele pudesse varar a janela. E eu, indefeso, seria presa fácil. Vejo seus vultos aos montes. Acho que vou ficar acordado. Nem sei se o amanhã existe.

Acordei. Ou me transcendi na sua leitura.

Aqui, onde ninguém me conhece, ou aí, onde todos julgam me conhecer?

Enquanto não decido, fico à margem!

Fim da viagem!

(Junho de 2006 – Fábio Fonseca)

Um comentário:

Anônimo disse...

putaquemepariu!!!!!!!!!!!!!!
lembra do meu último comentário aqui?, aquele blábláblá sobre evolução coisa e tal?
repete ele aí, vai!
enfim meu velho, tá ficando bom, tá ficando cada vez melhor, tá ficando cada vez mais lírico e triste e melancólico e bate aquela vontade doida de sair correndo por aí gritando que a vida é só um texto bem escrito, mais nada.
porra, muito bom, ducaralho!
vai entrar no romance, né?
se não entrar na sua entra na minha parte, beleza?
disperso como a memória, triste como a saudade, terno como o carinho, literário como um bom texto.

abraços e inté!